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Descendente de japoneses, a atriz Jacqueline Sato fala de preconceito na TV

Ju Ferraz

19/07/2018 22h04

Toda mulher já sofreu algum tipo de preconceito. Seja pelo corpo, pela cor da pele, pelo jeito de se vestir ou se comportar. Sempre vai ter alguém para tentar te desestruturar e te deixar para baixo. Jacqueline Sato sabe bem disso. Descendente de japoneses, ela já viu as suas características físicas virarem piada ou ser motivo para perder trabalhos. Mas ela nunca se deu por vencida, atriz com vários papeis importantes no currículo, ela está vivendo um dos seus melhores momentos. "Torço para que a cada dia haja mais multiplicidade de etnias sendo protagonistas, e coadjuvantes relevantes nas tramas. Pois isto é mais a cara do Brasil", desabafa.

(Foto: Jorge Bispo)

De volta à Globo na novela "Orgulho e Paixão", ela interpreta a médica Mariko, descendente de um dos primeiros japoneses a pisar em solo brasileiro. Sua personagem (lembrando que a história se passa em 1910) era uma das pouquíssimas mulheres médicas, e a única mulher na sua turma na faculdade na trama.  "Mariko é uma mulher muito à frente do seu tempo. Superou os obstáculos e conquistou seu espaço, mantendo a doçura e leveza. Ela é um grande exemplo pra mim", contou Jacqueline.

Além de todos os compromissos profissionais – ela também estreia a série (Des)Encontros, do Canal Sony, na semana que ve – Jacqueline é uma mulher consciente do seu lugar no mundo, amante dos animais e criadora de um abrigo para animais abandonados intitulado "House of Cats". Eles recolhem gatinhos da rua, e são responsáveis por todos os cuidados com os bichanos até que encontrem um novo lar. É algo bem estruturado e que conta com apoio de veterinários que fazem também castração, etc.

Por isso e por tanto mais, como vocês podem ler na entrevista aqui embaixo, escolhi a atriz e ativista para falar sobre assédio, feminismo, preconceito e, claro, seus próximos projetos. É muito assunto e muito papo. Só vem!

Ju Ferraz: Muito se fala da falta de representatividade nos castings de filmes, novelas e comerciais. Como você, como descendentes de japoneses, vê essa questão? Existem mesmo poucos papeis para vocês?

Jacqueline Sato: Ainda bem que muito se fala atualmente. O nosso país é constituído por esta multiplicidade étnica e antes não se dava tanta voz a esta causa como agora. E a mudança está acontecendo em várias partes. Desde o público que vem criticando quando não vê esta representatividade na tela, à mídia que vem colocando isto em pauta – e é como se colocassem uma lupa numa questão – aos produtores e diretores que estão mais conscientes da importância de haver esta multiplicidade em seus castings. Já houve muito menos oportunidades, está melhor, mas estamos num caminho que acredito ser crescente. Afinal, uma vez que você se conscientiza de algo, não tem como voltar atrás.

(Foto: Jorge Bispo)

Ju Ferraz: Já sofreu preconceito por ter características asiática? Como é a situação dos descendentes de japoneses hoje no Brasil?

Jacqueline Sato: Se você considerar que, às vezes ter seu nome substituído por uma característica étnica (japa, japinha, japonesa) poder ser encarado como preconceito, sim. Torço para que a cada dia haja mais multiplicidade de etnias sendo protagonistas, e coadjuvantes relevantes nas tramas. Pois isto é mais a cara do Brasil. Os primeiros japoneses, por exemplo chegaram há mais de 110 anos no Brasil. Somamos mais de 1,6 milhões de descendentes. Somos tão brasileiros quanto os descendentes de Africanos, Portugueses, Italianos, etc. Já passei por situações atípicas em testes: quando chego me fala "ah… você não é brasileira, é muito japonesa." E  também já ocorreu: "Poxa, a gente tá procurando "japonesas", e você não é bem japonesa, é mais brasileira."

Ju Ferraz: E como mulher, que tipos de situações desfavoráveis você já passou e como saiu delas?

Jacqueline Sato: Assédio disfarçado de piadinhas. Quando mais nova, ficava sem jeito. Contra as piadas que claramente ofendiam as mulheres, nos colocando como sendo mais fracas ou inferiores, eu conseguia me colocar. Mas contra algumas que são machistas, mas são veladas, ou disfarçadas de elogio, mas que no fundo nos constrange, eu demorei um pouco mais pra saber como lidar. Com o tempo, amadurecimento, fui percebendo que não havia nada errado comigo, e sim com a parte da sociedade que achava isso normal. No passado, cheguei a pensar que eu é que devia estar errada por agir de certo jeito, por sorrir, ser simpática e gente boa com algum homem, e isso ser confundido com um "algo mais" que nunca existiu. Teve uma fase que até media minhas atitudes, tentava controlar o meu jeito de ser para tentar não ser mal interpretada. Mas como ser livre assim? Hoje não me intimido se alguém faz alguma piada que constrange as mulheres, muito pelo contrário, vou lá e faço a pessoa entender o porquê aquilo que ela fez não é positivo. Pois esta luta por uma sociedade mais justa não é só das mulheres, é dos homens também.

(Foto: Jorge Bispo)

Ju Ferraz: Como vê o atual momento do movimento feminista? 

Jacqueline Sato: Creio que estamos muito mais unidas, e acho que é disso pra mais. Gerações anteriores ainda replicavam os conceitos de que amizade entre mulheres é difícil, que as mulheres competem muito entre si etc. Vejo que não só paramos de reproduzir estes conceitos, como também o contestamos, e agimos provando que é o oposto disto. Somos, sim, amigas, não competimos, e sim ajudamos umas às outras. Isso só traz crescimento pra gente e pra quem está à nossa volta.

Ju Ferraz: Conta da House of Cats. Como surgiu, como mantém, e qual a importância dos animais na sua vida?

Jacqueline Sato: Aconteceu meio que naturalmente. Eu, desde pequena, já resgatava gatinhos abandonados. Meus pais, passaram a me apoiar nisto também, e escolhemos um local na casa só para eles. Os resgates foram se tornando mais frequentes, e quem adotava com a gente, sempre indicava para os amigos e tal. Foi aí que resolvemos parar de postar as fotos dos nossos gatinhos resgatados nos perfis pessoais para criar uma página voltada para este trabalho. E começou a ir muito bem. Já ajudamos mais de 727 gatos a encontrarem donos responsáveis e carinhosos. É muito gratificante.

(Foto: Jorge Bispo)

Ju Ferraz: Quais seus próximos projetos?

Jacqueline Sato: No próximo dia 23 estreia a série (Des)Encontros, do Canal Sony, em que interpreto uma das protagonistas. Estou muito feliz e louca para ver o resultado. Marina é uma designer, que se dá bem em vários âmbitos da vida, mas no amor, ainda falta. Tem uma relacionamento, ou um rolo, depende do ponto de vista, que tem durado tempo demais, mas que tem lá seus bons momentos. Só que, no fundo, ela gostaria de ter alguém especial, parceiro de verdade. Talvez a Marina seja legal até demais com os outros, sabe? Faz muito por tudo e por todos, e aí acaba esquecendo do principal, que é dar mais valor e atenção a si mesma, às suas reais vontades. Ela não aparenta ser insegura, nem ter medos, pelo contrário, é toda descolada. Mas aos poucos vamos a conhecendo e vendo que toda super-mulher tem seus momentos de falta de coragem.

Ju Ferraz: Que mensagem você gostaria de deixar para as meninas descendentes de asiáticos que não se sentem representadas na TV, no cinema e nas revistas?

Jacqueline Sato: Não deixe que ninguém te faça se sentir menor, pior. Não queira ser diferente de quem você é. Confie na sua essência e nas suas verdadeiras vontades, pois elas é que vão te guiar e te dar força sempre.

 

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Sobre a autora

A baiana Ju Ferrazcomeçou a carreira em Salvador como assessora de imprensa, até migrar para São Paulo, onde trabalhou em diversas empresas de comunicação, criando produtos editoriais exclusivos, projetos especiais de cross media e produção de eventos. Atualmente é diretora comercial, novos negócios e de relações públicas da Holding Clube. Mais do que uma executiva competente, com anos de experiência nas mais diversas plataformas, Ju é a mulher real que não tem medo de se jogar de cabeça em novos projetos e novas ideias ou de expor suas fraquezas. E mais: está longe de se transformar em uma figura idealizada descolada da realidade.

Sobre o blog

Um espaço para pensatas, conversas, divagações e troca de experiências sobre o que é ser mulher nos dias de hoje.

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