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Projota fala do machismo no rap e desafia Temer em música: "país doente"

Ju Ferraz

15/08/2018 22h02

O rapper Projota é um fenômeno. Ou vai me dizer que vocês conhecem vários artistas brasileiros que têm a marca de um bilhão de visualizações de seus clipes no YouTube? Pois é exatamente com essa força e com esse público que ele liberou um single poderoso nesta quinta-feira batizado Sr. Presidente que fala por muitos brasileiros: "Vontade a gente tem mas não tem onde trabalhar/ Justiça a gente tem mas só pra quem pode pagar/ Coragem a gente tem mas não tem forças pra lutar/ Então a gente sai de casa sem saber se vai voltar/ Sr. Presidente, esse país tá doente / Nosso povo já não aguenta mais / Sr. Presidente, como você se sente / Ao ver a fila dos nossos hospitais? / Sr. Presidente, até queria que a gente / Se entendesse mas não sei como faz".

O rapper, que ocupa hoje um lugar de destaque na música brasileira e é um dos principais responsáveis por levar o gênero de volta às paradas de sucesso, é autor de músicas como "Ela Só Quer Paz",  "Oh Meu Deus",  "Cobertor" e tantos outros. Consciente do megafone que tem nas mãos, Projota busca com seu novo lançamento chamar atenção para a situação de abandono do país. "Essa música representa a voz do povo, que não sabe em quem votar esse ano. Espero que as pessoas tenham consciência na hora do voto porque vai definir muita coisa, define tudo", contou em papo exclusivo com o blog.

E ele não parou por aí, falou sobre o machismo no mundo do rap, sua relação com as redes sociais, a vida do Tiago, seu nome de batismo, quando era só um garoto da periferia e, claro, sua contribuição para o movimento feminista. "Todos deveriam apoiar esse movimento de empoderamento e ficar ao lado das mulheres. Por isso estou sempre antenado, procurando me inteirar sobre o que elas têm a dizer, tentar ouvir. Eu canto rap porque quero que as pessoas ouçam o que eu tenho para falar, então nada mais correto do que escutar o que os outros também têm a dizer", comentou. Vem ler o papo.

Ju Ferraz: De que forma a música mudou a sua vida? Como era o Projota antes de ser Projota?
Projota: A música foi essencial na formação do meu caráter, da minha personalidade, especialmente o rap, que eu comecei a ouvir e compor aos 15 anos de idade e não parei mais. O Projota antes de ser o Projota era só o Tiago, um moleque da periferia que gostava de curtir a vida, adorava ficar na ruas com os amigos, sempre procurou a movimentação tanto para diversão tanto para resolver as coisas da vida. Mas que também era responsável dentro de casa, muito família.

Ju Ferraz: O rap é um importante estilo de contestação política. Mas por que acha que ele ainda tem tão pouco espaço nas grandes rádios e na televisão, que ainda prioriza as canções mais leves?
Projota: É sim. Inclusive no meu caso, a maioria das minhas composições são com contestação, com mensagens de superação. Mas no final das contas, acabei sendo conhecido pelas músicas românticas, que são as que tocam na rádio, que entram nas novelas. É um estilo mais jovem, então segue ocupando espaço. Talvez seja a melhor coisa para que a essência não seja perdida.

Ju Ferraz: O rap, antes, era um ambiente  machista. Como essa nova geração de mulheres influenciou o rap?
Projota: Sim, o hip hop no geral sempre foi bastante machista, especialmente o rap com suas letras. Eu acredito que as mulheres que participam diretamente dessa cultura são fundamentais para essa mudança. Hoje eu percebo o quanto isso é necessário. Talvez lá atrás eu não tivesse essa visão, mas eu aprendi com elas. Todos os dias vão surgindo novas MC's, uma melhor do que a outra. Já temos várias, Karol Conka, Cynthia Luz, Flora Matos, Drik Barbosa, Negra Li… são várias e isso é muito importante. Sou fã de todas! Se não fosse por elas, as coisas não seriam assim. Hoje nós temos mulheres no show, na plateia, trabalhando nos bastidores, em todas as áreas de atuação.

Ju Ferraz: Como vê o atual empoderamento feminino? É um caminho sem volta?
Projota: Vejo da melhor forma possível. Fico feliz com o avanço que já tivemos, mas ainda temos muito a caminhar nesse quesito. Na minha opinião todos deveriam apoiar esse movimento de empoderamento e ficar ao lado das mulheres. Por isso estou sempre antenado, procurando me inteirar sobre o que elas têm a dizer, tentar ouvir. Eu canto rap porque quero que as pessoas ouçam o que eu tenho para falar, então nada mais correto do que escutar o que os outros também têm a dizer. Só assim a gente cresce, se desconstrói, que começamos a construir igualdade. Ela está longe de ser alcançada, mas tenho certeza que um dia chegaremos lá.

Ju Ferraz: As redes sociais são muito importantes na sua carreira. Como lidar de uma forma saudável?
Projota: É algo novo, muito recente, então, a gente está sempre aprendendo. Eu tive que passar por aquele momento de vício de redes sociais para depois perceber que aquilo estava me fazendo mal. Acho que hoje encontrei um bom equilíbrio, até para manter uma boa relação com meus fãs, mas também para viver minha vida. Até porque eu componho todos as minhas músicas, e eu preciso viver pra compor, preciso vivenciar a vida intensamente, então, tem que ter o equilíbrio para tudo.

 

Sobre a autora

A baiana Ju Ferrazcomeçou a carreira em Salvador como assessora de imprensa, até migrar para São Paulo, onde trabalhou em diversas empresas de comunicação, criando produtos editoriais exclusivos, projetos especiais de cross media e produção de eventos. Atualmente é diretora comercial, novos negócios e de relações públicas da Holding Clube. Mais do que uma executiva competente, com anos de experiência nas mais diversas plataformas, Ju é a mulher real que não tem medo de se jogar de cabeça em novos projetos e novas ideias ou de expor suas fraquezas. E mais: está longe de se transformar em uma figura idealizada descolada da realidade.

Sobre o blog

Um espaço para pensatas, conversas, divagações e troca de experiências sobre o que é ser mulher nos dias de hoje.

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